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Marcadores bioquímicos de dano muscular.

Marcadores bioquímicos de dano muscular.

No âmbito esportivo, a linha que divide o desempenho ótimo do comprometido é estreita. Buscamos sempre retirar o máximo do indivíduo, mas como profissionais de saúde, priorizando sempre a segurança e longevidade esportiva do paciente.

Quando falamos em hipertrofia muscular, estamos nos referindo a algo que se inicia na sala de pesos, com um processo de dano tecidual induzido pelo treinamento resistido, e que se tudo estiver alinhado, irá culminar numa resposta adaptativa positiva. Essa injúria morfológica sofrida pelos músculos acarreta na liberação de alguns componentes intracelulares para o sangue, entre outros, a CPK.

No acompanhamento de praticantes de musculação e demais esportes (lutadores, entre outros), podemos utilizar a mensuração destes componentes como mais uma ferramenta de avaliação longitudinal do trabalho. Esperamos e queremos um aumento destes índices, e muitas vezes podemos usar isso para ajustes finos, ou em alguns casos até mesmo para confirmar que o paciente está indo pra academia apenas socializar.

No entanto, jamais podemos nos esquecer da individualidade biológica, princípio básico e fundamental. Um fisiculturista de categoria mais pesada obviamente terá valores muito mais expressivos que uma atleta bikini fitness, devido às particularidades de seu treinamento e diferença de volume muscular. Em alguns casos, devemos nos atentar para um desequilíbrio no ciclo estímulo-resposta-adaptação, que pode ter sua origem em inúmeros fatores, como por exemplo: nutrição, periodização do treinamento, sono/descanso, distúrbios hormonais, fatores psicológicos e ambientais externos, doenças de base, uso de alguns medicamentos. Cabe a nós, trabalhando em equipe e de maneira sinérgica, tentar identificar se isso é algo desejável e esperado, ou se pode representar um evento danoso a curto/médio prazo, a exemplo da rabdomiólise.

A rabdomiólise consiste numa síndrome clínica decorrente de um dano muscular excessivo, levando ao acúmulo de substâncias potencialmente tóxicas no organismo. Apesar da dosagem de CPK ser a mais difundida no meio esportivo, diversos outros parâmetros bioquímicos podem ser analisados, entre eles, a mioglobina, que é um marcador bem importante nestes casos, comumente manifestando-se com urina escurecida (mioglobinúria), levando muitos pacientes a um estado de pânico imediato. Sendo assim, sempre devemos levar em conta queixas musculares aparentemente inofensivas, como: dor além do habitual, fraqueza (especialmente em membros inferiores) e sensação de edema. A complicação mais importante é a insuficiência renal aguda, podendo ser necessária a terapia substitutiva renal (hemodiálise), tamanho o comprometimento da filtração glomerular.

A partir disso, vemos que existe uma análise muito mais profunda na interpretação de exames laboratoriais. Comumente, observo extremismos dos dois lados, com alterações fisiológicas do exercício sendo supervalorizadas, e outras sendo interpretadas como normais (“generalização do normal”), quando na verdade não estão sendo causadas pelo treinamento propriamente dito (atenção para a diferença entre sensibilidade e especificidade). Quero chamar aqui a atenção para o uso de substâncias de procedência desconhecida por esportistas recreativos, algo cada vez mais comum nos dias atuais. Muitas vezes, a presença de impurezas pode ser o gatilho para uma série de complicações como a citada anteriormente. Em outros casos, o uso de algum medicamento para o tratamento de determinada patologia de base é determinante, e a lista aqui é extensa. No entanto, sou contra a crucificação de forma generalizada de certos fármacos, pois na Medicina tudo deve ser ponderado levando em conta minuciosos critérios clínicos. Por isso, desconfie sempre do que lhe oferecem, e procure ter ao seu lado uma equipe de confiança, que realmente coloque a busca do desempenho máximo em nível paralelo de importância com a manutenção dos indicadores de saúde.

Felipe Pereira – Médico
Residência Médica em Medicina do Exercício e do Esporte pela UNIFESP/EPM (2013-Atual)
Membro do American College of Sports Medicine (ACSM)
[email protected] / @felipepereiracarlos

Referências bibliográficas:
1. Zutt R, van der Kooi AJ, Linthorst GE, Wanders RJ, de Visser M. Rhabdomyolysis: review of the literature. Neuromuscul Disord 2014; 24(8):651-659.
2. Giannoglou GD, Chatzizisis YS, Misirli G. The syndrome of rhabdomyolysis: Pathophysiology and diagnosis. Eur J Intern Med 2007; 18:90.
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